Não-monogamia e o sofrimento da mulher negra.

by - janeiro 17, 2017

Sempre tento escrever sobre o assunto, mas me falta um pouco de coragem. É aquela história de que é preciso ser desconstruída ou ter amigos adeptos do poliamor pra saber discutir e discernir como as coisas são na prática, como é a vida sexual de uma mulher negra em um relacionamento tecnicamente fechado.

Há mais de 200 anos, que a hiper sexualização da mulher é colocada em questão. Seja em bordéis, nos quilombos,  bares, em rodas de conversa, na missa, no culto, na balada, na rua, nas escolas, na esquina... UFA! E em muitos outros lugares. Muito se falava em orgias e trocas de casais, e isso não se perdeu. Não é um problema ter desejos com várias pessoas e praticar isso, admiro cada um que consegue. Mas porque a mulher negra foi objetificada bem mais que as mulheres brancas?


Levantei essa questão, porque acompanho postagens de mulheres negras que se sentem negadas ao se relacionar com algum homem, e na maioria branco. Tudo começa com uma relação normal de 1, 2, 3 anos. A imposição de uma relação aberta surge através de uma "desculpa" do rapaz dizendo que tá insatisfeito e que não quer mais uma relação monogâmica. Ou a companheira descobre uma traição com uma mina BRANCA e ao questionar o indivíduo, o mesmo afirma que foi um deslize e nada mais. A mulher por estar suficientemente oprimida, insegura seja por qualquer fator sério (além da sociedade),ou  acaba cedendo ou fica meses na neurose, desconfiando sem saber o que fazer, principalmente quando há um filho envolvido.

O ponto chave é: a mulher negra sempre será objetificada inconscientemente, mesmo havendo uma promessa de que ela sempre será o "amor da vida dele, mas que ele quer ser livre, desfrutar o  real amor". Mas na verdade essa liberdade nunca vai existir, porque haverá sempre mais um ferido, no caso a mulher NEGRA, devido o histórico de que ''pele preta serve pra comer."

Se relacionar de forma não-mogâmica é também mudar a forma com que você vê e vive todas suas relações. É conviver com o fantasma do modelo romântico e monogâmico de relacionamentos. Além de termos de lidar com os diversos preconceitos já tão difundidos, não vamos achar numa capa de revista aquele guia básico de como “deixar de sentir ciúmes e sentir apenas compreensão”, ou “escolha a melhor dinâmica de relacionamento não-monogâmico para vocês”, ou “como organizar sua agenda sem negligenciar as necessidades das pessoas com quem você se relaciona”, ou “como finalmente saber separar sentimentos reais de construções sociais impostas pela sociedade”, ou ainda “descubra o momento certo de revelar sua não-monogamia para amigos, familiares e colegas de trabalho”, ou quem sabe “evite constrangimentos ao dialogar sobre novas dinâmicas ou pessoas nas relações”.

A mulher branca, mesmo sendo beneficiada pelo padrão eurocêntrico, não pode ser a verdadeira inimiga da opressão que foi estabelecida pelo patriarcado no que tange as relações heterossexuais. Ao contrário, os verdadeiros beneficiados dessa “diversidade” feminina para livre escolha, são os homens, e é a estes quem devemos questionar; questionar seus gostos, questionar suas escolhas de relacionamentos monogâmicos ou não, é para eles quem devemos curvar as nossas problematizações acerca da solidão da mulher negra e a valorização exagerada da beleza magra e branca enquanto a mulher “despadronizada” é uma vitima de uma sociedade doentia que corrompe a nossa sexualidade, a nossa liberdade do existir.

Quando se busca uma compreensão sobre relacionamentos afetivos é preciso a cima de qualquer coisa, evidenciar a posição dos envolvidos para saber o grau de dificuldade e felicidade de ambos. Propor algo que não condiz com a realidade do outro, é desrespeitar a integridade e causar uma atmosfera negativa sobre o universo, principalmente feminino.

Quando dizemos que mulher negra, não é bagunça, não é por causa da nossa cor somente, mas, pelos cargos que sempre foram impostos para nós: a incapaz, escrava, prostituta, a pobre, a burra, a Globeleza, a máquina de fazer sexo. A nossa transa pode ser maravilhosa, mas quem faz sexo comigo é obrigado a ter compaixão pelas minhas raízes e saber porque me empodero.

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